domingo, 12 de novembro de 2017

NOVO BLOGUE!!!

Olá a todos!!
ESTE POST É SOBRETUDO DIRECCIONADO AOS MEUS 7 SEGUIDORES DESTE BLOGUE: eu agora tenho um novo blogue, onde me dedico nomeadamente à maquilhagem. O blogue é este: https://kikiworldfashion.blogspot.com Gostaria IMENSO que o continuassem a seguir!!!
Tento publicar lá todos, ou quase, todos os dias, faço vídeos lá..
Bem, era só isto que queria dizer.
Se conseguirem, não de esqueçça de SEGUIR O BLOGUE PFF!!!
Beijinhos. 😘😘

domingo, 24 de agosto de 2014

7º capítulo

Quando cheguei a casa decidi fazer uma pesquisa no meu computador. Quando abri o Google, digitei aquela palavra.
Vampiro.
Quando os resultados surgiram apareceram imensas coisas - tudo, desde filmes e series de televisão a jogos de dramatização, música da pesada e empresas que produziam e fabricavam cosméticos góticos.
Quando a pagina abriu, fui saudada por 2 citações na pagina inicial: Em todo vasto mundo sombrio dos fantasmas e dos demónios, nao existe figura tão terrível, figura tão temida e abomina, mas, ao mesmo tempo, paramentada de um tal fascínio temeroso como o vampiro, que nao é fantasma, nem demónio, mas que, todavia, compartilha das índoles tenebrosas e possui os misteriosos e terríveis atributos de ambos. - Rev. Montague Summers.
Se existe, neste mundo, um relato devidamente fundamentado, é aquele que se refere à existência dos vampiros. Nada lhes falta: relatórios oficiais, atestados de pessoas de renome, cirurgiões, sacerdotes, magistrados; a comprovação judicial está quase concluída. E, com tudo isso, quem é que acredita em vampiros? - Rousseau.
Apenas 3 entradas é que me chamaram muito à atenção: o romeno Varacolaci, um poderoso morto-vivi que conseguia aparecer como um belo humano de pele clara; o eslovaco Nelapsi, uma criatura tão forte e veloz que podia chacinar uma aldeia inteira numa única hora, logo após a meia noite; e um outro, o Stregoni benefici.
Apenas havia uma breve frase sobre este ultimo.
Stregoni Benefici: um vampiro italiano que está do lado do bem e é um inimigo mortal de todos os vampiros malévolos.
Foi um alivio aquela entrada, o único mito entre centenas que defendia a existência de vampiros bons.
Velocidade, força, beleza, pele clara, olhos que mudam de cor, e por fim os critérios do Bruno: bebedores de sangue, inimigos do lobisomem, de pele fria e imortais. Havia muito poucos mitos que correspondiam a um so sector que fosse.
Obriguei-me a concentrar-me nas 2 perguntas fundamentais que exigiam uma resposta, mas fi-lo com relutância.
Em 1° lugar, tinha de saber se era possível que aquilo que o Bruno me tinha dito a respeito dos Fernandes fosse verdade.
Imediatamente, a minha mente replicou com uma retumbante resposta negativa. Era uma tolice e uma morbidez albergar ideias de tal modo ridículas. Mas, entao, qual era a explicação?
Ele parecia adivinhar os pensamentos de todos os que o rodeavam... excepto eu. Disse-me que era o vilão, que era perigoso.
Seria possível que os Fernandes e os Costa fossem vampiros?
Bem, algo eles haviam de ser. Quer estivesse relacionado com os frios que o Bruno me tinha contado ou com a minha própria teoria do super-herói, o Rafael Fernandes nao era... humano. Era algo mais.
O que eu iria fazer se fosse verdade? - essa era a questão mais importante de todas.
Se o Rafael fosse mesmo um vampiro - mal conseguia eu sequer pronunciar mentalmente as palavras -, o que deveria fazer eu?
Implicar outra pessoa estava fora de questão, certamente iria mandar-me internar.
No outro dia, quando cheguei à escola estava ansiosa nao para vê-lo so a ele mas sim a todos os Fernandes. Nenhum deles estava na cantina, quando chegou a aula de Biologia senti uma nova onda de decepção ao verificar que ele nao estava. O resto do meu dia passou lento e triste.
Decidi ir lá para fora, para o pátio quadrado do meu pai, dobrei a colcha a meio, estendi-a e deitei-me nela, acabando por adormecer.
Passado algum tempo perdi a noção do tempo e quando reparei ja o meu pai estava a chegar a casa.
-Desculpa pai, o jantar ainda irá demorar um bocadinho, adormeci lá fora - disse, reprimindo um bocejo
-Nao te preocupes com isso filha, de qualquer forma queria ver qual era o resultado do jogo. - afirmou ele
No dia seguinte, a Jess conduzia mais depressa do que o meu pai (o chefe da polícia) e, devido a isso, chegamos a Coimbra por voltas das 16h. Tínhamos ido lá para irmos comprar os vestidos da Jéssica e da Angela para o baile.
-Nunca foste sequer com um namorado ou algo do género? - perguntou-me a Jéssica num tom de duvida quando entramos pela porta da frente da loja
-A serio - tentei convence-la
Nunca tive um namorado nem nada parecido. Raramente eu saía. - disse-lhe
-Porque nao? - perguntou-me ela
-Ninguém me convidava.
Ela parecia céptica.
-Aqui ha quem te convide para sair - relembrou-me a Jéssica - e tu recusas.
A variedade de vestidos daquela loja nao era muito grande, mas cada uma encontrou qualquer coisa para experimentar. Eu sentei-me numa cadeira baixa no interior do gabinete de prova, junto do espelho de 3 faces.
A Jéssica estava dividida por 2 vestidos: um comprido, sem alças, com o preto como cor de base e um outro azul-eléctrico com alças fininhas, cujo o comprimento se ficava pelos joelhos. Eu incentivei-a a optar pelo azul; porque nao jogar com a cor dos olhos? A Angela escolheu um vestido cor-de-rosa pálido que caía lindamente na sua estatura elevada e conferia cambiantes cor de mel aos seus cabelos castanho-claros. Elogiei-as generosamente e ajudei-as a restituir os artigos rejeitados às respectivas prateleiras.
Dirigimo-nos depois para a secção de sapatos e acessórios. Eu apenas me limitava a dar a minha opinião.
-Angela? - disse eu
-Sim? - respondeu ela enquanto esticava a perna, torcendo o tornozelo, de modo a poder ter um melhor angulo de visão do sapato
-Gosto desses.
-Entao acho que os irei comprar, apesar de nao condizerem com mais nada para além daquele único vestido - reflectiu ela
-Oh, compra-os, eles estão em saldo - incentivei-a
-Hm, Angela...
Ela ergueu o olhar com curiosidade.
-É normal que os... Fernandes estejam muitas vezes ausentes da escola? - eu mantive os meus olhos nos seus sapatos
-Sim, é normal. Quando o tempo está agradável, eles partem muitas vezes em viagem, com a mochila às costas... ate o medico. São todos grandes adeptos do ar livre. - revelou-me ela com grande tranquilidade, examinando também os seus sapatos
Ela nao fez uma única pergunta, ao contrario do que poderia acontecer com a Jéssica, que teria feito centenas delas. Eu estava a começar a gostar realmente da Angela.
Nós íamos jantar a um pequeno restaurante italiano e entao disse-lhes que iria encontrar-me com elas ao restaurante dentro de 1h. Eu queria encontrar uma livraria.
Eu vagueei pelas ruas calmamente. Um grupo de 4 homens, vestidos de uma uma forma demasiado descontraída, mas bastante sujos, contornou a esquina para a qual eu me dirigia. Quando se aproximaram de mim, apercebi-me de que nao eram muito mais velhos que eu. Eu afastei-me o máximo que pude para o lado interior do passeio de modo a dar-lhes espaço, caminhando rapidamente.
Um deles consegui chegar perto de mim e segurou-me com força.
-Afaste-se de mim - avisei-o num tom se voz firme e destemido
-Nao sejas assim, meu docinho! - exclamou ele
Foi entao aí que surgiram luzes de faróis na esquina e o carro quase atingiu o homem, obrigando-o a recuar.
-Entra - ordenou-me uma voz furiosa
Mal eu entrei no carro, estava bastante escuro - nenhuma luz se acendeu quando eu abri a porta.
-Coloca o cinto de segurança - ordenou-me ele
-Estas zangado comigo? - perguntei-lhe, espantada com a forma como a minha voz estava enrouquecida
-Nao. - disse ele secamente, nas com um tom de voz que transmitia fúria
Fiquei calada, enquanto percorríamos km e km. Pelo que parecia, ja nao estávamos na cidade.
-Adriana? - interrogou-me ele, com a sua voz tensa e controlada
-Sim? - respondi-lhe, mas com a voz ainda um pouco rouca
-Estas bem?
-Sim, estou. - respondi-lhe
-Distrai-me, pff - ordenou ele
-Hm, amanha vou atropelar o Tyler.
-Porquê? - perguntou-me ele, perplexo
-Porque anda a dizer a toda a gente da escola que me vai acompanhar ao baile. - disse eu
-Também ouvi falar nisso. - ele parecia um pouco mais calmo a falar
Ignorei, pois nao queria falar muito mais nesse assunto.
-A Jéssica e a Angela devem estar preocupadas. - murmurei
Ele ligou o motor e em questão de segundos estávamos mesmo em frente ao restaurante 'La Bella Itália'.
Ouvi a porta a abrir-se e virei-me, vendo-o a sair.
-O que é que estas a fazer? - perguntei-lhe
-Vou levar-te a jantar.
-Jess! Angela! - grifei para que elas me ouvissem
Elas ouviram-me e vieram ter comigo.
-Onde estiveste? - perguntou-me a Jéssica, com um tom de voz que transmitia um pouco de desconfiança
-Perdi-me. E depois acabei por me encontrar com o Rafael, por acaso.
Fiz um gesto na direcção dele.
-Nao se importam que vos faça companhia? - perguntou com a sua voz suave e irresistível
-Ah... claro que nao - afirmou suavemente a Jéssica
-Hm, na verdade, Adriana, nós ja jantamos enquanto estávamos à tua espera; desculpa - confessou-me a Angela
-Tudo bem, eu nao tenho fome - disse, encolhendo os ombros
-Acho que devias comer alguma coisa - o Rafael falava com um tom de voz baixa, mas com alguma autoridade. Ele olhou para a Jéssica de seguida - Importas-te que eu leve a Adriana a casa esta noite? Dessa forma nao terão de esperar enquanto ela come.
-Hm, penso que nao haja problema... - disse a Jéssica
-Está bem! - disse a Angela - Ate amanha, Adriana... Rafael.
De seguida, a Angela pegou na mão da Jéssica e entraram no carro. Antes de entrar, a Jéssica voltou-se e acenou-me. Eu retribui-lhe o aceno, à espera que elas se afastassem antes de me virar de frente para ele.
-A serio, eu nao tenho fome - insisti
-Faz-me a vontade - disse ele
O restaurante nao estava cheio, mas parecia agradável. Quem recebia os clientes era uma melhor e eu percebi o seu olhar enquanto ela examinava o Rafael. Ela recebeu-o de uma forma mais calorosa do que o normal.
-Tem uma mesa para 2?
A voz dele era sedutora, quer fosse essa a sua intenção ou nao.
-O que lhe parece aquela mesa? - perguntou a empregada
-Perfeito
Fomos sentar-mo-nos na mesa.
-Olá. Chamo-me Amber e serei a sua empregada de mesa. O que deseja beber?
O Rafael olhou para mim.
-Eu quero uma Coca-Cola. - disse eu
-São 2 Coca-Colas. - disse ele
-Vou busca-las.
Os olhos dele permaneceram ficados em mim.
-O que foi? - perguntei
-Como te sentes?
-Estou óptima.
-Nao te sentes tonta, enjoada, com frio...?
-Deveria sentir-me?
-Ainda estou à espera que entres em choque Adriana. - de seguida ele soltou um riso abafado
-Acho que isso nao ira acontecer. Sempre fui boa a reprimir coisas desagradáveis.
-Mesmo assim, ficarei mais descansado quando ingerires algum açúcar e comida.
Nesse momento, a empregada voltou à nossa mesa.
-Está pronto para pedir? - perguntou ela ao Rafael
-Adriana?
A empregada virou-se de má vontade para mim e ri escolhi o 1º prato que estava na ementa.
-Hm... vou quer um strogonoff de cogumelos.
-E o senhor? - perguntou ela, votando-se de novo para o Rafael com um grande sorriso
-Eu nao vou querer nada.
Claro que nao queria, isso era obvio.
-Se mudar de ideias, avise-me. - disse ela
De seguida, a empregada foi-se embora.
-Bebe - ordenou-me ele
-Obrigada. - agradeci
Arrepiei-me com a sensação de frio que derivava do refrigerante gelado.
-Tens frio?
-É so da Coca-Cola. - expliquei-lhe, sentido outro arrepio
-Nao tens nenhum casaco?
Antes de lhe responder, olhei para o banco ao meu lado e reparei de que o meu casaco nao se encontrava lá.
-Oh! Esqueci-me dele no carro da Jéssica. - contestei
Nesse momento, o Rafael esta a despir o seu casaco. Ele deu-me o seu casaco para vestir.
-Obrigada! - exclamei-lhe, com os braços a deslizarem pelas mangas do seu casaco
Estava frio. O seu casaco exalava um odor fantástico. As mangas eram demasiado compridas; arregacei-as de modo a poder libertar as minhas mãos.
-Essa cor azul condiz maravilhosamente com a tua cor pele. - afirmou ele, observando-o
Fiquei surpreendida e baixei o meu olhar, envergonhada e corada como é evidente. Ele de seguida empurrou o cesto do pão na minha direcção.
-A serio, nao vou entrar em estado de choque Rafael. - protestei
-Mas devias; era o que aconteceria a uma pessoa 'normal'. Mas tu nem sequer abalada pareces.
-Eu sinto-me protegida na tua companhia.
A minha ultima afirmação pareceu desagradar-lhe.
-Bem, parece que isto ira ser mais difícil e complicado do que eu imaginara. - murmurou ele para consigo mesmo
Eu fiquei calada por uns momentos, perguntando-me quando é que seria o momento indicado para o começar a interrogar. Em vez disso, limitei-me apenas a lançar-lhe uma afirmação sobre a cor dos seus olhos.
-Normalmente, estas sempre mais bem-disposto quando os teus olhos estão assim, claros.
Ele fitou-me, estupefacto.
-O quê?
-Estas sempre mais rabugento quando os teus olhos estão negros; nesse momento, ja sei o que esperar. - prossegui - Alias, tenho uma teoria a esse respeito.
Os seus olhos semicerraram-se.
-Mais teorias?
-Sim.
Eu estava a mastigar um pedaço de pão, tentando parecer indiferente.
-Gostaria que, desta vez, fosses um pouco mais criativa Adriana... ou contíguas a inspirar-te em livros de banda desenhada?
-Nao, nao me baseei num livro de banda desenhada, mas também nao a elaborei sozinha. - confessei-lhe
Ele esperou que eu disse-se algo, mas, nesse exacto momento, a pregada voltou com o meu prato.
-Mudou de ideias? - perguntou ela ao Rafael - Tem a certeza de que nao quer que lhe traga nada?
Eu podia imaginar o duplo significado das suas palavras.
-Nao, obrigado. Mas convinha que trouxesse mais Coca-Cola.
-Com certeza.
Ela retirou os copos vazios e afastou-se.
-O que estavas a dizer?
-Digo-te no carro. Se... - detive-me
-Ha condições?
-Tenho, de facto, algumas questões a colocar-te, como deves calcular.
-Claro.
-Porquê estas em Coimbra Rafael? - nesse momento ele deixou-me tocar na sua pele, fria e dura como uma pedra - obrigada
-Segui-te ate aqui, até Coimbra. - confessou ele - Nunca tentei manter viva uma pessoa em especial, e é muito mais problemático do que eu alguma vez pensei, mas deve ser por essa pessoa seres tu. As pessoas consideradas normais parecem conseguir chegar ao fim do dia sem tantas catástrofes.
Ele deteve-se. Perguntei-me a mim mesma se deveria ficar incomodada com o facto de ele andar a seguir-me; mas em vez disso, fui invadida por uma estranha sensação de prazer.
-Ja te ocorreu a ideia de que talvez tivesse chegado a minha vez naquela 1ª ocasião, com a carrinha, e tu tens estado a interferir com o destino?
-Nao foi essa a 1ª vez Adriana. - disse ele - A tua vez chegou quando te conheci. Lembras-te? - perguntou-me ele, com o seu semblante solene de anjo
-Sim, lembro-me. - eu estava calma
-E, no entanto, aqui estas tu sentada.
-Sim, aqui estou eu sentada... por tua causa - detive-me - Porque, de alguma forma, tu sabias como me encontrar hoje... - incentivei-o a explicar
-Okay, tu comes e eu falo. - negociou ele comigo
Eu peguei noutra garfada com strogonoff de cogumelos e levei-a à boca, mastigando com pressa.
-É mais difícil do que o normal, localizar-te. Normalmente, consigo encontrar uma pessoa com muita facilidade quando ja auscultei a sua mente antes. Andei a vigiar a Jessica e, a principio, nao reparei que tinhas partido sozinha. Entao, quando me apercebi de que ja nao estavas com elas, decidi ir à tua procura à livraria que vi na cabeça dela. Percebi que nao tinhas entrado na livraria e que te deslocavas para Sul, logo sabia que irias voltar para trás em breve. Assim, estaria à tua espera. Eu nao tinha motivos para estar preocupado... mas estava estranhamente ansioso...
Ele parecia estar perdido nos seus pensamentos.
-O Sol está finalmente a pôr-se e eu estava prestes a sair do carro e a seguir-te a pé. Entao... - ele parou. Esforçando-se por se acalmar.
-Entao o quê? - sussurrei
-Ouvi o que eles estavam a pensar. Vi a tua cara na mente dele. Foi muito... difícil para mim... nao imaginas o quanto... simplesmente levar-te dali e mante-los... vivos. - a sua voz era abafada pelo seu braço - Eu podia ter-te deixado ir com a Jéssica e com a Angela, mas eu receava que, se me deixasses sozinho, eu fosse atras deles. - confessou ele num sussurro - Estas pronta para ir para casa? - perguntou-me ele
-Estou pronta para me ir embora. - reformulei
A empregada de mesa apareceu como se tivesse sido chamada ou como se nos estivesse a observar.
-Está tudo bem? - perguntou ela
-Ja pode trazer-nos a conta, obrigado.
A voz dele estava serena, mais ríspida, reflectindo ainda a tensão da nossa conversa. Parece ter perturbado o espirito da empregada. Ele levantou o olhar, esperando.
-C... com certeza. - tartamudeou ela - Aqui tem.
Ele pôs a nota em cima da mesa.
-Nao é necessário dar-me o troco.
-Tenha uma boa noite.
Ele nao desviou o olhar de mim enquanto eu agradecia.
Quando entrámos no carro estava frio, ele ligou o motor e pôs o aquecimento ao máximo. A temperatura baixou significativamente e eu calculei que o bom tempo tinha chegado ai fim. Porém, o seu casaco mantinha-me quente.
O Rafael saiu do parque de estacionamento, avançando por entre o trafego, aparentemente sem um olhar, virando de repente para trás para seguir em direcção à auto-estrada.

-Agora... - disse-me ele de uma forma sugestiva - é a tua vez de fazer perguntas.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

6º capítulo

Passados uns momentos de lá termos chegado, penso que o Mike se quis exibir um pouco.
-Ja alguma vez viste uma fogueira de madeira flutuante? - perguntou-me ele
-Nao - disse eu, enquanto ele encostava o ramo em chamas ao cone formado pela madeira
-Entao vais gostar disto; observa bem as cores.
Ele ateou outro pequeno ramo e colocou-o ao pé do 1º.
As chamas começaram a consumir a madeira seca rapidamente.
-Está azul - exclamei, espantada
-É o efeito provocado pelo sal. É bonito nao é?
Na Costa da Caparica havia uma reserva. Foi entao que 3 adolescentes da reserva se juntaram a nós, incluindo um rapaz chamado Bruno Carvalho e o mais velho que desempenhava o papel de porta-voz.
-Olá. És a Adriana Martins certo?
-Sim - disse, suspirando mas nao me admirando por ele saber o meu nome devido a ser a filha do Chefe Policia
-Eu sou o Bruno Carvalho.
-Eu supostamente devia lembrar-me de ti certo? - perguntei-lhe devido a nao me recordar dele
-Nao, eu sou o membro mais novo da família. Deves é da minha irmã mais velha.
-A Inês - relembrei-me de repente dela - Ela está aqui?
-Nao - disse o Bruno - Ela está fora a fazer um curso.
-Porquê que os Fernandes nao vêm à vossa reserva? - perguntei ao Bruno
-Referes-te à família do Dr. Bruno Fernandes? - respondeu um rapaz alto, mais velho.
-Sim, tu conheces-os?
-Os Fernandes nao vêm aqui - afirmou ele, num tom de voz que encerrava o assunto
Ele disse que os Fernandes nao iam, mas o seu tom de voz insinuou algo mais - que a sua presença nao era permitida.
-Queres ir caminhar pela praia? - perguntei ao Bruno, tentando mudar de assunto e ele aceitou
Começamos a caminhar pela praia.
-Entao Bruno, que idade tens? 17 anos? - perguntei-lhe
-Acabei se fazer 16. - respondeu, sentindo-se lisonjeado
-A serio? Eu diria que eras mais velho.
-Sou alto para a idade que tenho - explicou-me
-Ja agora, quem era aquele rapaz alto? Parecia-me um pouco velho demais para andar convosco.
-É o Pedro, tem 18 anos - informou-me ele
-O que é que ele estava a dizer em relação à família do medico? - perguntei-lhe, inocentemente
-Os Fernandes? Ah, eles nao podem entra na reserva.
-Porque nao?
-Desculpa, mas nao posso dizer nada a esse respeito.
-Eu prometo que nao conto a ninguém.
-Gostas de historias assustadoras? - pergubtou-me
-'Adoro'-as - exclamei, com entusiasmo
-Conheces alguma das nossas historias antigas, a respeito das nossas origens?
-Nao - confessei
-Existe a história acerca dos 'frios'.
-Dos frios? - perguntei, estando agora intrigada
-Sim, de acordo com a lenda o meu bisavô conhecia alguns deles. Foi ele que firmou o tratado que os mantinha longe das nossas terras.
-O teu bisavô?
-Sim, ele era ancião da tribo tal como o meu pai. Os frios são os inimigos naturais dos lobos. Nao propriamente do lobo, mas sim dos lobos que se transformam em homens, como os nossos antepassados. Pode-se chamar de lobisomens.
-Os lobisomens têm inimigos?
-Apenas 1. Os frios são, por tradição, nossos inimigos, mas os que chegaram ao nosso território no tempo do meu bisavô eram diferentes. Nao caçavam como os outros da sua espécie faziam - logo nao deviam constituir uma ameaça para a tribo. Dessa forma, o meu avô decretou uma trégua com eles.
-Entao porquê que...?
-Existe sempre um perigo para os humanos estarem perto dos frios, mesmo que sejam civilizados como este clã era.
-O que queres dizer com "civilizados"?
-Eles alegavam nao caçar humanos, caçavam animais como alternativa.
-Como é que isso encaixa nos Fernandes? Eles são como os frios que o teu bisavô conheceu?
-Nao, são os mesmos. - disse ele - No tempo dele conheceram o líder, o Bruno.
-E o que são eles. O que são os frios? - perguntei por fim
-Bebedores de sangue, a tua gente chama-lhes de vampiros.
Nao sabia, ao certo, o que o meu rosto expressava.
-Estas com pele de galinha. - riu-se
-Es um bom contador se historias. - elogiei-o - Nao te preocupes, eu nao te denuncio
-Suponho que apenas violei o tratado - riu-se - Mas agora a serio, nao comentes nada com o teu pai. Ele ficou bastante chateado ao saber que alguns de nós ja nao iam ao hospital porque o Dr. Fernandes trabalha lá.
-Nao direi nada. - afirmei
-Aí estas tu, Adriana. - exclamou o Mike
-É o teu namorado? - perguntou-me o Bruno ao ter reparado o laivo de ciúme no tom de voz do Mike
-Nao, de modo nenhum - suspirei
Despedi-me do Bruno e fui ter com o Mike.
-Onde tens estado? - perguntou-me o Mike
-O Bruno esteve-me a contar umas historias interessantes.
-Foi bom ver-te 'novamente' - disse-me o Bruno
-Sim, foi mesmo - disse-lhe - e obrigada. - acrescentei com um ar serio
Depois deste dia, fomos arrumar as coisas para voltar-mos a Lisboa.

Estava ansiosa para que 2ª feira chegasse, pois queria falar muito com o Rafael e descobrir, por fim, toda a verdade.

domingo, 10 de agosto de 2014

5º capítulo

Encaminhei-me para a aula de Inglês num estado de estupefacção. Nem tinha reparado que a aula ja tinha começado.
-Obrigado por se juntar a nós menina Martins - disse o professor Miguel
Eu fui logo de imediato para o meu lugar, corada.
O resto da manha passou sem que nada ficasse memorizado na minha memória. Eu nao conseguia acreditar naquilo que o Rafael tinha-me dito nesta manha e o seu olhar. Pensei que tivesse sido um sonho extremamente convincente que eu confundi com a realidade.
Dessa forma, estava completamente impaciente e assustada quando eu e a Jessica entramos na cantina. Eu desejava ver a sua cara para me certificar se tinha voltado a ser a mesma pessoa fria e indiferente que eu tinha conhecido nas semanas anteriores.
Fui invadida pela desilusão quando os meus olhos focaram a mesa dele e so viram os seus 4 irmãos. Será que teria ido para casa? Foi a única coisa em que pensei, enquanto me encaminhava para a mesa.
-O Rafael Fernandes está a olhar-te de novo - afirmou a Jéssica, afastando-me da minha abstracção ao ter pronunciado o nome dele - Porquê que será que ele hoje está sentado numa mesa sozinho.
Levantei de imediato a cabeça. Assim que os nossos olhares se cruzaram, ele levantou uma mão e fez um gesto com o seu dedo indicador para que fosse fazer-lhe companhia.
-Está a dirigir-se a 'ti'? - perguntou-me - Jéssica
-Hm, talvez preciso de ajuda nos trabalhos de casa de Biologia. É melhor ir ver o que é que ele quer.
Quando cheguei à sua mesa, mantive-me de pé.
-Porque nao te sentas hoje à minha mesa? - perguntou-me, sorrindo
Eu sentei-me logo de imediato.
Parecia impossível alguém tão perfeito existir.
-Esta situação é fora do vulgar - consegui afirmar finalmente
-Decidi que, ja que vou para o inferno, mais vale fazê-lo de uma forma consumada.
Esperei que ele dissesse algo que tivesse sentido.
Ele voltou a sorrir passados uns momentos.
-Parece que os teus amigos estão zangados comigo por te ter roubado.
-Hão-de sobreviver.
-Mas eu posso nao te devolver - disse ele com um sorriso perverso nos lábios
Eu acabei por me engasgar e ele riu-se.
-Pareces preocupada
-Apenas estou surpreendida... A que se deve isto tudo?
-Ja te tinha dito antes, estou farto de continuar a manter-me afastado de ti. Por isso, desisto
Ele ainda sorria, mas os seus olhos ocres estavam sérios.
-Desistes? - repeti, estando bastante confusa
-Sim, desisto. A partir de agora faço apenas o que me apetecer.
-Baralhaste-me de novo.
O seu espantoso sorriso constrangido ressurgiu.
-Falo sempre de mais quando falo contigo. É um dos problemas.
-Nao te preocupes, eu nao compreendo nada do que dizes - disse-lhe ironicamente
-Estou a contar com isso
-Entao, somos amigos?
-Amigos... - disse ele, indeciso
-Ou nao?
Ele mostrou um sorriso rasgado
-Bem, podemos tentar, mas digo-te de que nao sou um bom amigo para ti.
-Repetes isso demasiadas vezes.
-Porque tu nao me estas a dar ouvidos. Se fosses esperta, evitavas-me.
-Entao... enquanto eu nao estiver a ser esperta, tentaremos ser amigos?
-Sim, parece-me que é mais ou menos isso.
-Em que é que estas a pensar? - perguntou-me com curiosidade
-Estou a tentar compreender quem tu es.
O seu maxilar contraiu-se quando fiz a ultima afirmação.
-Estar a fazer alguns progressos nessa empreitada? - perguntou-me com um tom de voz espontâneo.
-Nao muitos - confessei
Soltou um riso abafado
-Quais são as tuas teorias?
Eu corei nesse momento.
-Nao me dizes? - perguntou ele
Abanei a cabeça.
-É demasiado embaraçoso.
Olhamo-nos fixamente, sem nos rimos.
Passado uns momentos, eu decidi cortar o silencio ao ver que ele estava um pouco tenso.
-O que se passa?
-O teu namorado parece que está a pensar que estou a ser desagradável contigo. Está a deliberar-se se ha-de ou nao vir interromper a nossa discussão - esclareceu ele
-Nao sei a quem te referes, mas provavelmente deves estar enganado
-Nao estou. Ja te disse, maior parte das pessoas são transparentes.
-Excepto eu...
-Sim, excepto tu.
-Nao tens fome? - perguntou-me ele
-Nao. E tu? - decidi perguntar-lhe
-Nao, também nao tenho fome."
-Rafael, posso pedir-te um favor? - perguntei após um instante de hesitação
Ele ficou um pouco desconfiado.
-Depende daquilo que pretendes.
-É so que... pensei apenas... se poderias avisar-me antecipadamente da próxima vez em que resolveres voltar a ignorar-me para o meu próprio bem pff? Apenas para que eu própria me sinta preparada.
-Parece-me ser justo.
-Obrigada.
-Podes, entao, dar-me uma resposta em troca? - interrogou-me ele
-Okay, apenas uma.
-Releva-me 'uma' teoria.
-Nao, isso nao.
-Apenas uma, eu prometo que nao me riu.
-Ris sim.
Eu estava certa quanto a esse facto.
Ele baixou o olhar e depois voltou a olhar na minha direcção.
-Por favor? - disse ele, inclinando-se na minha direcção
-Hã, o quê? - perguntei, um pouco confusa
-Por favor, revela-me uma teoria.
-Hm, bem, foste mordido por uma aranha radioactiva?
Fiquei envergonhada quando comecei a falar.
-Essa teoria nao é lá muito criativa - disse ele
-Lamento, mas é a única que tenho.
-Nao estas nem perto da verdade, o que na verdade me deixa satisfeito. - afirmou ele num tom se provocação
-Nao ha aranhas?
-Nao.
-Nao ha radioactividade?
-Nenhuma.
-Raios! - exclamei - Eu hei-de acabar por descobrir.
-Quem me dera que nao o tentasses fazer.
-Porquê?
-E se eu nao for o herói e sim o vilão?
-És perigoso? - arrisquei-me a adivinhar, com a minha pulsação a acelerar quando reparei nas minhas próprias palavras - mas nao es mau. Nao, nao acredito que sejas mau.
-Estas enganada.
Quando reparei que a cantina estava quase vazia, levantei-me de um salto.
-Vamos chegar atrasados.
-Hoje nao irei à aula.
-Porque nao Rafael?
-Sabes, é saudável faltar-mos às aulas de vez em quando.
-Bem, eu vou. - informei-o
-Entao vemo-nos logo.
Quando cheguei à sala, o professor Jorge ainda nao estava lá.
Pelo material que vi na sala de aula, a aula seria para tirar-mos sangue.
O professor Jorge chegou à sala minutos depois de mim.
-A Cruz Vermelha ira promover uma recolha de sangue em Lisboa no próximo fim de semana e julguei que todos deveriam tomar conhecimento do seu respectivo sangue sanguíneo.
Passado algum tempo, os meus colegas começaram a retirar o seu proprio sangue. Eu comecei-me a sentir mal, nao por me irem retirar o meu sangue (ainda nao tinha chegado a minha vez) mas sim por ter cheirado o cheiro a sangue.
-Adriana, estas bem? - perguntou-me o professor Jorge
-Stor, eu ja sei qual é o meu grupo sanguíneo. - disse eu, sem energia
-Sentes-te desfalecer?
-Sinto, stor. – murmurei
-Alguém pode levar a Adriana à enfermaria? - perguntou o professor à turma
Sabia que o Mike estava desejoso de poder fazê-lo.
-Consegues andar? - perguntou o professor
-Sim, consigo.
Fui entao, com o Mike, ate à enfermeria. Mas antes de lá chegar pedi-lhe se nos poderíamos sentar num banco.
-Deixas-me sentar aqui so um bocadinho, por favor?
Ele ajudou-me.
-E mantém sem a mão no bolso. - avisei-o
-Adriana? - ouvi uma voz de longe. Eu tinha desmaiado
-O que se passa? Ela magoou-se?
-Acho que ela desmaiou. E nem sequer picou o dedo.
-Ei, consegues ouvir-me Adriana?
-Nao, vai-te embora.
O Rafael soltou um sorriso abafado.
-Eu levo-a ate à enfermaria - informou o Rafael ao Mike - Podes voltar para a aula.
-Nao, sou eu quem deve fazê-lo - protestou o Mike
O Rafael ignorou-o e continuou a andar comigo ao colo ate à enfermaria.
-Com que entao desmaia ao ver sangue? - perguntou-me o Rafael
Eu nao respondi.
-E nem era o teu próprio sangue. - continuou
Quando chegamos à enfermaria a menina Alves estava lá.
-Ela desmaiou na aula de Biologia. - disse o Rafael - Ela está apenas um pouco fraca. Estão a retirar sangue lá na aula.
A enfermaria acenou com a cabeça.
-Deita-te aqui um pouco amor; isto ja passa.
-Eu sei - disse eu, suspirando
As náuseas foram desaparecendo.
Graças à ajuda do Rafael, consegui também escapar à aula de E.F.
Permitiram que eu fosse para casa.
-Aonde é que pensas que vais? - perguntou-me o Rafael
-Vou para casa.
-Nao estas em condições de conduzir sozinha. Eu levo-te.
Entrou no meu carro no lugar de condutor. Eu entrei logo a seguir.
Quando chegamos a minha casa, permanecemos os dois dentro do meu carro. Eu atrevi-me a fazer-lhe a ansiosa pergunta que tinha por lhe fazer.
-Os Fernandes adoptaram-te?
-Sim, adoptaram.
Por momentos, hesitei.
-O que aconteceu com os teus pais?
-Morreram ha alguns anos.
-Lamento. - disse
-Mas, na verdade, nao me recordo muito bem deles. O Bruno e a Catarina ja são os meus pais ha muito tempo.
-E tu ama-los.
Nao era uma pergunta, era, de facto, uma afirmação.
-E os teus irmãos?
-Bem, os meus irmãos, por exemplo, o Andre e a Rita vão ficar bastante chateados ao constatarem que o meu carro está na escola e eu nao.
-Desculpa - lamentei - é melhor ires.
-Sim, vemo-nos 2ª feira.
-Amanha nao vais à escola?
-Nao, eu e o Bernardo vamos acampar mais cedo.
Relembro-me do meu pai ter dito que eles acampavam frequentemente.
-Mas, Adriana, promete-me de que te manténs a salvo enquanto estiver fora.

-Claro que sim. Entao, ate 2ª feira.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

4º capítulo

No meu sonho estava bastante escuro e a luz que existia parecia irradiar a pele do Rafael. Eu nao conseguia ver a cara dele, apenas as costas que se iam afastando de mim, deixando-me sozinha. Por mais depressa que eu corresse nunca o conseguia alcançar; por mais alto que eu o chamasse, ele nunca se virava para mim.
Acordei totalmente agitada a meio da noite e nao consegui voltar a dormir. A partir dessa noite, ele esteve SEMPRE presente em todos os meus sonhos.
O mês a seguir ao acidente foi intranquilo, tenso e vergonhoso, no inicio.
Para minha grande sorte, fui o centro das atenções durante o resto da semana.
O Tyler estava insuportável, seguindo-me para todo o lado e pedindo-me desculpa pelo sucedido.
Ninguém parecia estar preocupado com o Rafael, embora eu ja tivesse explicado inúmeras vezes que ele tinha sido o herói - afastando-me da trajectória da carrinho e que também quase foi esmagado.
Jéssica, Mike, Eric e os outros sempre diziam que nao o tinham visto ate a carrinha ser removida.
Perguntei-me a mim mesma o porquê de ninguém o ter visto a uma longa distancia de mim e de repente estar mesmo a meu lado. De repente apercebi-me de uma causa possível - ninguém estava tão atento ao Rafael como eu estava.
O Rafael nunca esteve rodeado por multidões de curiosas pessoas. As pessoas evitavam-no. Como sempre, os Fernandes e os Costa sentaram-se na mesma mesa, sem comerem, apenas dialogando entre si. Nenhum deles, mas sobretudo o Rafael, voltou a olhar na minha direcção.
Quando se sentou ao meu lado na aula, parecia-me totalmente alheio à minha presença, estando afastado mais possível de mim.
Eu nao chegava a outra conclusão a nao der que ele gostaria de nao me ter afastado da trajectória da carrinha do Tyler.
Ele ja se encontrava sentado no seu devido lugar quando eu cheguei à aula de Biologia.
-Olá, Rafael. - disse de uma forma amável tentando mostrar-lhe que me iria comportar devidamente.
Ele virou um pouco a cabeça sem olhar para mim, acenou com a cabeça, e logo de seguida olhou no sentido oposto.
Este foi apenas o único e ultimo contacto que tivemos. Às vezes olhava para ele, nao conseguindo evitar - quer fosse na cantina ou no parque de estacionamento.
Os meus sonhos continuavam.
O Mike, pelo menos, pareci o único satisfeito com a relação de frieza que existia entre mim e o meu parceiro de laboratório.
A neve desapareceu após aquele único e perigoso dia. Mas a chuva continuava a cair copiosamente e as emanas foram passando.
A Jéssica informou-me acerca do baile de Primavera, que iria decorrer dentre de 2 semanas, onde são as raparigas que escolhem o seu par e ela estava a pensar em convidar o Mike.
-Tens a certeza de que nao te importas? Nao o tencionavas convidar? - insistiu ela.
-Nao, Jess, eu nao vou - assegurei-lhe.
-Vai ser incrivelmente divertido.
-Diverte-te com o Mike - tentei incentiva-la.
O Mike estava invulgarmente calado hoje e continuou calado ao acompanhar-me ate à aula.
-Pois - disse o Mike, sempre olhando para o chão - a Jéssica convidou-me para o baile.
-Isso é óptimo e vais divertir-te com ela - fiz o máximo que pude para a minha voz parecer animada
-Bem, eu disse-lhe que teria de reflectir no assunto. Porque estava a perguntar-me se... estarias a pensar convidar-me.
-Sinceramente devias aceitar o convite dela.
-Ja convidaste outra pessoa? - perguntou
-Nao, eu nao vou ao baile.
-Porque nao? - insistiu ele
-Vou fazer uma viagem e vou a Seattle este sábado. - expliquei, fazendo novos planos.
-Nao poderias ir noutro fim de semana?
-Nao - respondi - Portanto nao deves fazer a Jess esperar mais, isso seria uma falta de educação e de respeito.
-Sim, tens razão. - disse ele e voltou para o seu lugar.
Quando o professor Jorge começou a falar suspirei e abri os meus olhos.
Fiquei totalmente surpreendida ao ver que o Rafael estava a observar-me com uma expressão curiosa estampada no seu rosto.
Retribui-lhe o olhar, bastante surpreendida, à espera que ele desvia-se o seu olhar. Mas nao fez, pelo contrario, continuou a fixar os seus olhos nos meus com uma certa intensidade. As minhas mais começaram a tremer.
-Sr. Fernandes? - chamou o professor pretendendo ter a resposta a uma pergunta cujo eu nao ouvi.
-Ciclo de Krebs. - respondeu o Rafael.
No fim da aula, quando a campainha tocou finalmente, virei-me de costas para ele para recolher os meus livros e esperando que ele saísse logo, como ja era de habitual.
-Adriana?
Reconheci a voz familiarizada e voltei-me lentamente, de má vontade. Quando finalmente me voltei ele nada disse.
-O que é que foi? Ja voltaste a falar comigo foi? - perguntei com uma certa frieza
Os seus lábios contorceram-se, contendo um sorriso.
-Nao, nem por isso - confessou.
-Entao o que é que queres Rafael? - perguntei, mantendo os olhos fechados.
-Desculpa. Eu sei que estou a ser muito indelicado mas o melhor é ser assim, a serio.
Quando abri os meus olhos, o seu rosto estava extremamente serio.
-Nao sei a que te referes - afirmei.
-É melhor nao sermos amigos, confia em mim. - explicou-me
Fechei os meus olhos. Ja tinha ouvido aquelas mesmas palavras antes.
-É pena que nao tenhas percebido isso antes Rafael - disse com uma certa ponta de raiva - Terias evitado e poupado todo esse arrependimento.
-Arrependimento?
O meu tom de voz apanhou-o totalmente desprevenido.
-Arrependimento em relação ao quê Adriana?
-Ao facto de nao teres simplesmente deixado que a porra da carrinho me tivesse esmagado e matado.
Ele estava agora a olhar-me com incredulidade.
-Achas mesmo que me arrependo de te ter salvo a vida?
-Eu sei que te arrependas de o ter feito - disse com bastante frieza.
-Tu nao sabes nada.
Ele estava, agora sem divida, enfurecido.
Virei-lhe a cara bruscamente, cerrando os meus maxilares para travar todas as desenfreadas acusações que desejava dizer-lhe. Recolhi os meus livros e, logo de seguida, levantei-me da cadeira e dirigi-me para a porta de saída. Tive uma imensa vontade de realizar uma saúda dramática da sala de aula, mas, para meu azar, fiquei com a biqueira da minha bota presa na ombreira da porta e os meus livros caíram. Pensei em deixa-los ali mas depois suspirei e curvei-me para os apanhar. Mas ele ja estava ali; ja os tinha na sua mão. Entao entregou-mos, com una expressão dura estampada no seu rosto.
-Obrigada - disse-lhe, agradecendo o gesto.
Ele semicerrou is seus olhos.
-Nao tens de quê. - retorquiu ele.
Endireitei-me agilmente e fui para o ginásio sem olhar para trás.
A aula de E.F. foi brutal, pois começamos a praticar Basquetebol. A minha equipa nunca me passava a bola, o que era fantástico. Nessa aula o meu desempenho estava pior devido à minha cabeça estar povoado com o Rafael.
Quando a aula terminou foi um alivio para mim.
Quando ja estava dentro do meu carro reparei no Eric a acenar-me, com a intenção de me chamar.
-Olá Eric! - exclamei
-Olá Adriana
-O que é que se passa? - perguntei-lhe
-Estava so aqui a pensar... se irias ao baile comigo.
-Achava que eram as raparigas que escolhiam o par
-Bem, e são - reconheceu, um pouco envergonhado
-Bem, obrigada por me convidares Eric. Mas farei uma viagem de avião ate Seattle nesse dia.
-Ah, talvez fique para a próxima.
-Claro - disse eu, nao tendo a intenção de ele levar as minhas palavras demasiado à letra
O Rafael ja se encontrava a 2 carros de distancia de mim. Recuou com o seu Volvo e parou ali - para esperar pela sua família.
Enquanto permaneci ali sentada, reparei no Tyler. Abri o vidro, mas este estava perro, consegui apenas abri-lo ate a meio.
-Desculpa Tyler, estou encurralada pelos Fernandes.
Estava, sinceramente, aborrecida.
-Eu sei; queria apenas pedir-te algo. -esperou por um momento - Convidas-me para o baile?
-Estarei fora do país.
-Pois, o Mike ja tinha falado nisso - confessou
-Entao para quê que... ?
-Estava apenas com esperança que estivesses a rejeitar o convite do Mike de uma forma simpática.
-Desculpa Tyler, mas estarei mesmo fora do país.
-Nao faz mal. Ainda ha o baile de finalistas. - afirmou ele
Quando cheguei a casa, decidi preparar "enchiladas" de frango para o jantar. O telefone tocou: era a Jéssica que estava radiante; Mike tinha-a comunicado que aceitaria o seu convite. Festejei com ela durante alguns instantes enquanto mexia o preparado. Ela tinha que desligar, queria comunicar também à Angela e à Lauren, sugeri também para que a Angela convidasse o Eric e a Lauren convidasse o Tyler.
Logo que desliguei o telefone, concentrei-me no jantar - principalmente em cortar o frango dm cubos pois nao queria arriscar-me a uma ida às urgências. A minha cabeça dava voltas ao tentar analisar cada palavra do Rafael que tinha dito hoje. O que queria dizer ele quando disse que era melhor nao sermos amigos?
O meu estômago contorceu-se ao pensar numa resposta: talvez ele tenha dito que nao possamos ser amigos porque ele nao estava minimamente interessado em mim.
Era obvio que ele nao estava interessado em mim - os meus olhos começaram a arder decidi à reacção retardada das cebolas. Eu nao era interessante. E ele era: Interessante, brilhante, misterioso, perfeito, lindo e, possivelmente, capaz de levantar automóveis em peso apenas com uma mão.
Bem, eu iria deixa-lo em paz. Eu iria deixa-lo em paz. Concentrei-nos nos meus pensamentos em terminar as "enchiladas" e coloca-las no forno.
O meu pai chegou a casa e sentiu logo o cheiro da comida. Servi a comida na mesa e sentei-me a comer.
-Pai? - interrompi-o quando ele ja estava quase a terminar a refeição?
-Sim, Adriana?
-Hm, queria apenas informar-te de que vou fazer uma viagem a Coimbra deste sábado a 1 semana... se nao houver problema claro.
Nao queria parecer estar a pedir-lhe autorização.
-Porquê?
-Bem, eu gosto de ler livros ingleses e aqui os recursos da biblioteca são bastante limitados, e podia também comprar algumas roupas.
-Vais sozinha? - perguntou-me ele
-Vou
-Coimbra é uma cidade bastante grande, poderás perder-te. Queres que vá contigo?
-Nao é necessário pai. Provavelmente limitar-me-ei a passar todo dia em gabinetes de prova.
-Oh, está bem
-Obrigada pai! - exclamei, sorrindo.
-Estas de volta a tempo do baile?
-Eu nao vou ao baile
-Tens razão - percebeu logo de imediato.
No dia seguinte, quando cheguei ao parque de estacionamento estacionei o mais longe possível do Volvo prateado. Quando saí do meu carro, atrapalhei-me ao pegar na chave e esta caiu. Quando fui apanha-la, uma mão branca agarrou-a antes de que eu o pudesse ter feito. Era o Rafael Fernandes que estava ao meu lado, completamente descontraído ao meu lado.
-Como é que fizeste isto? - perguntei-lhe irritada
-Como fiz o quê?
Ele erguia a minha chave no ar enquanto falava, quando a tentei alcançar ele deixou-a cair na palma da minha mão.
-Aparecer vindo do nada.
-Adriana, eu nao tenho a culpa de que tu tenhas uma excepcional falta de observação.
A sua voz estava mais serena do que o normal.
Lancei-lhe um amor mal-humorado. Os seus olhos estavam claros, de uma cor mel dourado.
-Qual é que foi o motivo do engarrafamento da noite passada? Pensei que andavas a fingir que eu nao existo e nao a matar-me de irritação.
-Foi pelo bem do Tyler, tinha que lhe dar uma oportunidade.
-Seu! - exclamei bastante irritada.
-E se queres saber, nao ando a fingir que nao existes - prosseguiu
-Entao, andas mesmo a matar-me de irritação ja que a carrinha do Tyler nao se encarregou disso? - perguntei-lhe com raiva. Ele cerrou os lábios.
-Adriana, es completamente absurda. - afirmou ele com frieza
Eu nesse momento virei-lhe as costas e comecei a andar.
-Espera! - exclamou ele
Continuei a andar, ignorando-o.
-Desculpa, foi indelicado da minha parte - disse ele enquanto andávamos
-Porquê que nao me deixas em paz? - resmunguei
-Queria perguntar-te uma coisa.
-Que coisa?
-Estava a pensar se, deste sábado a uma semana, tu sabes, é o baile da Primavera...
-Estas a tentar armar-te em engraçadinho?
-Importaste de me deixar terminar?
Esperei.
-Ouvi-te dizer que ias a Seattle, e queria saber se querias companhia.
Nao estava à espera.
-Ahn?
-Queres companhia para Seattle?
-De quem? - perguntei-lhe, baralhada
-De mim, obviamente.
-Porquê? - eu estava ainda aturdida.
-Bem, eu tencionava ir a Seattle durante estas próximas semanas.
Decidi finalmente falar.
-Francamente, Rafael - senti um frémito quando proferi o seu nome e detestei tal sensação -, nao consigo acompanhar-te e pensei que nao querias ser meu amigo.
-Eu disse que era melhor nao sermos e nao que nao queria que fossemos.
-Oh, obrigada, agora está tudo esclarecido.
Foi profundo sarcasmo. Apercebi-me de que tínhamos parado de andar novamente. Estávamos agira protegidos debaixo do tecto da cantina. Podendo eu, finalmente, olhar com mais facilidade para a cara dele, o que nao era favorável à minha clareza de raciocínio.
"-Seria mais... prudente que tu nao fosses minha amiga. - explicou-me ele - Mas sinceramente ja estou farto de continuar a manter-me afastado de ti, Adriana.
O seu olhar tornou-se intenção ao pronunciar a ultima frase. Nesse momento, admito-o, de que nao me lembrava como respirava.
-Vamos juntos para Coimbra? - perguntou-me, ainda com mais intensidade.
Eu ainda nao conseguia falar, devido às suas palavras eu estava paralisada, pelo que me limitei apenas a acenar com a minha cabeça.
Ele sorriu-me ao ver-me assim por breves instantes e, logo de seguida, a sua cara ficou seria.
-Devias manter-te afastada de mim Adriana - disse-me ele - Vemo-nos na aula.

Ele virou-se e voltou para trás pelo mesmo caminho que tínhamos andado.